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Melhore seu psicológico nas apostas esportivas

Melhore seu psicológico nas apostas esportivas

Rodrigo Disconzi Rodrigo Disconzi
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a arte de pensar claramente


O Dr. Rolf Dobelli em seu livro “A Arte de Pensar Claramente” (editora Objetiva, 2011) elencou uma extensa lista de erros de pensamento bastante comuns e creio que seja interessante listar alguns destes erros que podem nos ajudar a tomar decisões melhores nas apostas esportivas, analisar com mais clareza e entender os problemas do dia-a-dia do apostador com maior amplitude.

O ponto de partida de seu livro é a palavra Viés, que nada mais é que uma tendência de uma pessoa a apresentar ou possuir uma perspectiva parcial em detrimento de outras alternativas (possivelmente igualmente válidas).

Mostrando os vieses mais comuns, o autor dá sugestões de como evitar as armadilhas do próprio pensamento e tomar decisões de forma mais eficaz.

Neste artigo inicial citarei alguns interessantes e farei comentários que tenham relação ao mundo das apostas esportivas. Para o artigo não ficar muito extenso, nos diferentes próximos artigos irei incluir um “viés” em cada um deles, para efeito de complementação a este.

Viés da sobrevivência: o sucesso produz maior visibilidade do que o fracasso, então você superestima sistematicamente a sua própria perspectiva de sucesso. Ou seja, de tanto ver exemplos de outras pessoas que obtiveram sucesso em suas áreas, todos nós realmente acreditamos que vamos nos dar muito bem em qualquer coisa que venhamos a fazer na vida.

Obviamente que ser otimista não pode ser considerado algo ruim, desde que não se perca o senso de realidade (mais disso veremos no viés da dissociação cognitiva). Inclusive a utilização de pessoas exemplares (ou modelo, ou espelho) a serem seguidas é parte fundamental do aprimoramento pessoal em diversas áreas, desde esportes, arte, cultura ou ciências.

“Muitos se arriscam e poucos alcançam o sucesso. Mas só olhamos para os que se deram bem, ignorando os que se deram mal.”

Cada bilhete de aposta acumulada de alto valor ganha por alguém e postado na internet dispara em muitos outros uma necessidade de ganhar uma aposta alta similar.

O mesmo ocorre com as notícias das altas premiações em torneios de Poker obtidas por jogadores brasileiros.

Isso significa que não devemos correr riscos para obter sucesso? Claro que não. Mas é bom corrê-los tendo consciência que suas probabilidades podem estar deformadas pela ilusão do sucesso dos outros.

Os bookies sabem disso. Para o apostador ganhar 5 mil ou 5.500 é a mesma coisa, mas na ponta do lápis do bookie, no final do ano, as quantias ganhas são imensas. E claro, os que perdem muito dinheiro tentando não viram notícia nem capa de revistas.

Para se proteger desse viés posso aconselhar que o apostador busque entender o processo que levaram os outros ao sucesso e não perder tempo com o sucesso alheio em si.

Também vale muito a pena não dar importância para o que você acha que os outros possam vir a pensar sobre você. Não que a opinião dos outros não valha nada, muito pelo contrário, feedback sempre é bom.

O que não deve ocorrer é uma preocupação irreal.

Um dos melhores livros escritos sobre esportes, e que virou filme concorrente ao Oscar, é Moneyball, escrito pelo excelente Michael Lewis (editora Intrínseca 2003).

O “Homem que virou o Jogo”, nome do filme, trata da história de Billy Beane, ex-jogador prodígio que não deu certo como jogador e virou gerente de um time de baseball e que revolucionou o esporte ao interpretar as estatísticas de forma diferente para contratar e escalar seus jogadores.

o homem que virou o jogo


Indo contra o jeito usual estabelecido de gerenciar o baseball, ele sofreu muito preconceito e pouca aceitação em seu meio.

Mas entendam, quando a gente para de querer imaginar o que os outros vão pensar, a gente se sai melhor”, disse Billy ainda no começo do livro.

Outro conselho útil é o de, ao mesmo tempo que se evita preocupar com o sucesso dos outros ou sobre o que pensem sobre você, gastar seu tempo revisando os seus próprios projetos e investimentos que já falharam ou estejam por vir.  

Efeito do excesso de confiança: por terem mais conhecimento específico, os que se acham especialistas em alguma área sofrem bem mais o efeito do excesso de confiança do que os não especialistas. Eles deixam isso transparecer nos seus comentários ousados e nas previsões “que não tem como não dar certo”.

Na última vez que embarquei em um ônibus interno no aeroporto de Porto Alegre, o motorista da van percorreu aquele pequeno trecho a uma velocidade absurda.

Me senti em uma montanha-russa. Ele conhecia aquele trajeto e aquela máquina melhor que ninguém no mundo.

Na visão dele, ele era a melhor pessoa possível para aquela função específica. Na minha visão o excesso de confiança dele nos colocava em um risco totalmente desnecessário.

Nas apostas esportivas esse viés aparece nas piores horas possíveis. Quando nós estamos acertando as entradas e apostas, nos dirigimos ao caminho da expertise feito o motorista da van. Porém quando o underdog vence, quando uma bad-beat nos atinge, uma bad-run se atravessa na rota, o jipe e a vanzinha do aeroporto tombam legal.

 O excesso de confiança nas apostas esportivas é um gatilho poderoso para que venhamos a sair da nossa gestão de banca. Você acostuma a apostar 50 reais por entrada, normalmente. Mas em um jogo de futebol em que você apostou no favorito, ele tomou um gol. Você está assistindo, está vendo que o jogo está difícil e que o seu time favorito não está jogando bem. Mas pô :  eles são melhores e estão jogando em casa, ainda por cima precisam dos pontos, ‘Eles não podem não ganhar esse jogo! ”. Parece uma ótima oportunidade, aí você aposta 100 (o dobro do usual) no handicap asiático -1.25, afinal ainda tem muito tempo de jogo.

A pressão aumenta, o tempo passa e você sente que o gol está próximo, mas se dá conta que 1-0 ainda é prejuízo e espera o handicap -0.75 aparecer e você aposta exatos 150 (50+100). Nada de gol e agora o handicap mostra -0.5, ou seja, um golzinho nos último 12 minutos de jogo e você recupera TUDO. Então você aposta 300, afinal, todos sabem que é nos últimos minutos onde saem mais gols. O gol não sai e vc perdeu 600, 12 vezes o que você costuma apostar. Os motivos pelo descontrole podem ser muitos, entretanto o excesso de confiança estará entre eles.

O oposto ao excesso de confiança nas apostas esportivas é o “Loss Aversion” (medo de perder), que merece um capítulo à parte.

Para combater esse viés é importante lembrar-se que não temos controle algum sobre os acontecimentos em uma disputa esportiva. Se as apostas esportivas fossem fáceis de se prever, nem estaríamos aqui falando disso. Isso nos leva ao próximo viés.

moneyball

                                                                                                    (cena do filme Moneyball, com Brad Pitt).

Ilusão de controle: é a tendência a acreditar que podemos controlar ou influenciar alguma coisa sobre a qual, objetivamente, não temos nenhum poder.

Esse parece ser um dos motivos pelo qual muitos apostadores realmente não apostam, preferem atuar como tipsters. Eles analisam os times e jogadores, conhecem muito bem as ligas em que trabalham. Usam os dados estatísticos passados para tentar projetar eventos futuros.

E entre os que apostam, muitos preferem não se envolver em apostas ao vivo, que são extremamente dinâmicas e não números estáticos em tabelas de estatísticas.

Eu recomendo que todo apostador deva tentar aprender a apostar ao vivo, deva aprender a atuar como trader, deva observar as movimentações das odds e handicaps ao vivo.

O trabalho é complicado e penoso, muitos erros acontecerão. Tomar decisões em pouco tempo é muito mais difícil quando comparadas às análises pré-jogo. Certamente ele será um apostador mais completo se assim proceder, além de obter odds e preços muito melhores, irá apurar sua técnica de observação e de achar oportunidades de apostas vantajosas.

Em relação ao viés da Ilusão de Controle, o dr. Dobelli recomenda: “Concentre-se nas poucas coisas que você pode de fato influenciar – e, delas, por conseguinte, apenas nas mais importantes. Deixe todo o restante acontecer.”

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