"Bets chinesas" usam laranjas para aplicar golpes com "Tigrinho" e registar empresas na Fazenda
Uma reportagem do Estadão revelou um esquema onde as "bets chinesas" estão se apropriando de dados pessoas de brasileiros para abrir contas bancárias e movimentar o dinheiro oriundo de jogos de cassino online como o "Tigrinho". Além dos CPFs utilizados de forma irregular, as pessoas que sofrem o golpe são ameaçadas por apostadores que também são vítimas no esquema, já que não recebem os valores prometidos das plataformas ilegais.
Golpistas estrangeiros, especialmente chineses, estão ainda se utilizando de CPFs brasileiros obtidos de forma irregular para cadastrar plataformas no sistema oficial de registro das bets no Governo Federal. No processo de obtenção de autorização, tais plataformas estão se passando por produtos legalizados e aplicando golpes.
Ao Estadão, o Ministério da Fazenda apontou que todos os pedidos estão sendo analisados pela pasta e as suspeitas de fraude serão encaminhadas à Polícia Federal e ao Ministério Público.
"Se houver indícios de cometimentos de crimes, a SPA poderá enviar os casos aos órgãos de repressão aos crimes, o Ministério Público e a Polícia (Federal, estaduais ou distrital, conforme o caso)", disse, em nota, o Ministério da Fazenda.
- Uma mulher de Cachoeirinha, no Rio Grande do Sul, teve seus dados pessoais utilizados pelos golpistas e aparece no site de registros como dona de pelo menos cinco empresas de apostas e jogos. De acordo com a investigação, a cunhada da vítima foi cooptada por um estrangeiro para abrir empresas e cadastrá-las no site do Ministério da Fazenda em troca de R$ 600.
- Se não bastasse o transtorno, a mulher ainda teve seus dados utilizados na abertura de uma conta em uma fintech, onde recebia o depósito dos apostadores da plataforma irregular. Quando os usuários desse operador se depararam com a falta dos pagamentos dos prêmios, o contato da vítima foi encontrado e a mulher passou a receber ameaças.
- A reportagem do Estadão ainda mostrou o caso de um homem de 62 anos, morador de Contagem, em Minas Gerais, que teve seus dados utilizados para a abertura de uma empresa, a BH Trade LTDA, que aparece como uma das principais intermediadoras de pagamentos das bets irregulares. Ele disse não ter conhecimento da empresa e suspeita ser vítima de um golpe.
O Ministério da Fazenda diz que precisa de cinco meses para analisar os pedidos protocolados por empresas interessadas em operar no mercado regulado a partir de 20 de agosto. Atualmente, só 101 empresas têm aval para funcionar no período que o governo chama de “adequação”, até 31 de dezembro.
As “bets chinesas”, por sua vez, não informam licenças oficiais em seus sites ou usam menções falsas de licenciamento, assim como têm feito com marcas do governo brasileiro.
A Anatel já tinha alertado o Ministério da Fazenda sobre a dificuldade do bloqueio de sites irregulares chineses. Os estrangeiros se utilizam de máscaras, como a mudança de IPs, para gerar novas plataformas e seguirem ativos para os apostadores, sem nenhuma garantia de segurança ou recebimento dos valores.
(Foto: Fortune Tiger/Divulgação)