Brasileiros estão deixando de ir ao cinema ou comer pizza para apostar, aponta relatório
Um levantamento da SBVC (Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo).apontou que os consumidores brasileiros vêm diminuindo o ritmo de compras em outros segmentos, em especial de itens de vestuário, supermercados e viagens em detrimento do investimento em apostas esportivas, motivados pela suposta premissa de dinheiro fácil por meio das bets.
"Às vezes penso em comprar uma pizza, mas está passando Argentina e Canadá na televisão, por exemplo. Aí prefiro apostar naquele jogo, para ver se ganho e, com esse dinheiro, comprar a pizza. Mas se não ganho, acabo ficando no arroz e feijão mesmo", declarou o universitário Osmar Neto, de apenas 20 anos, um dos exemplos desse novo comportamento de consumo.
A pesquisa ainda trouxe outros detalhes interessantes. Veja alguns dos dados abaixo:
- 62% dos entrevistados disse já ter participado de apostas esportivas online;
- A maior parte dos usuários (29%) está na faixa etária entre 25 a 34 anos;
- 50% dos apostadores está na região sudeste; o centro-oeste possui a menor porcentagem de apostadores - 5%;
- O gênero masculino corresponde a 58% dos entrevistados; o feminino está em 42%;
- A classe C corresponde a maioria dos apostadores - 54%;
- 38% afirmaram que jogam semanalmente;
- 25% declararam jogar mais do que o que apostaram no ano anterior;
As plataformas mais utilizadas pelos entrevistados
- Betano - 67%
- Bet365 - 48%
- Esportes da Sorte - 38%
- Sportingbet - 32%
- Blaze - 28%
- Superbet - 24%
Apostas na renda familiar do brasileiro
O Banco Santander publicou um relatório em junho apontando que a participação do varejo nos gastos das famílias caiu de um pico de 63% em 2021 para 57% em 2023. No mesmo período, a participação das bets na renda familiar passou de 0,8% para algo entre 1,9% e 2,7% em 2023.
"Nós já vínhamos percebendo uma recuperação da renda do brasileiro no último ano, mas a retomada do consumo não acontecia no mesmo patamar", declarou Ruben Couto, analista de varejo da área de pesquisa de ações do Santander.
"Em um primeiro momento, pensamos que o nível de endividamento do consumidor estaria freando os gastos. Mas o comprometimento da renda com dívidas também vem caindo. Daí começamos a prestar atenção a novos comportamentos de consumo, como as bets", acrescentou Couto.
Em julho do ano passado, o grupo Assaí Atacadista já tinha reportado o deslocamento de gastos dos brasileiros para as apostas esportivas. O depoimento foi dado pelo alto escalão da empresa.
"Temos feito várias pesquisas que indicam que gastos novos entraram no bolso (…) O mercado de apostas esportivas aparece muito como algo que tira a renda do consumidor e, com isso, ele não tem conseguido retomar seus volumes de compra", declarou o presidente do Assaí, Belmiro Gomes, durante a teleconferência de resultados do segundo trimestre de 2023.
Um levantamento da AGP Pesquisas a pedido da SBVC, realizado entre abril e maio deste ano, com 1.337 consumidores em todo o país, identificou ainda que dois terços dos entrevistados (64%) usam a renda principal para apostas. Destes, 63% disseram que já se sentiram prejudicados por serem usuários de bets.
Entre os jogadores, 23% deixaram de comprar roupas, 19% não adquiriram itens de supermercado, 19% não consumiram viagens, 15% deixaram de fazer refeições fora do lar, 14% não compraram itens de higiene e beleza, 11% não adquiriram medicamentos ou outros cuidados com a saúde e 11% não pagaram contas básicas como água, luz e gás – tudo em favor das apostas online.