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Clubes e federações promovem medidas para garantir a integridade do futebol brasileiro

Clubes e federações promovem medidas para garantir a integridade do futebol brasileiro

Josias Pereira Josias Pereira
Clubes e federações promovem medidas para garantir a integridade do futebol brasileiro
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Com as recentes denúncias de manipulação de resultados no futebol brasileiro, diversos clubes e federações do esporte acenderam o alerta sobre os riscos de se macular a integridade no setor. Sendo assim, algumas medidas vêm sendo tomadas para evitar que mais casos, como os investigados pelo Ministério Público e pela Polícia Federal, voltem a ocorrer.

Vamos conferir o que vem sendo feito em clubes como Grêmio, Vasco, Corinthias e Flamengo, além das Federações Paulista, Paraibana, e Alagoana, para a prevenção dos crimes envolvendo apostadores-aliciadores. 

Grêmio

O Grêmio foi o primeiro a realizar uma medida para proteger os seus funcionários e, consequentemente, a imagem do clube, ainda no início de abril, após a situação envolvendo Ferreirinha. O tricolor gaúcho preparou e enviou aos seus colaboradores um documento interno, onde formalizou a proibição sobre envolvimento de funcionários em qualquer participação ou divulgação de apostas esportivas.

Além de jogadores, membros de comissões técnicas e staff de todas as categorias foram alertados sobre o tema. No documento, o clube gaúcho explicita que os funcionários não podem participar de apostas, de acordo com regulamentação da Fifa. Além disso, o texto também proíbe que seus colaboradores façam postagens relacionadas a jogos de azar em redes sociais, assim como seus familiares. A medida vale para todas as categorias do clube, desde a base até o profissional.

O documento oficial foi assinado pelo presidente do clube, Alberto Guerra, e estão previstas multas para quem descumprir a regra, que será considerada infração trabalhista pelo Grêmio.

Vale lembrar que a ação da diretoria gremista ocorreu após polêmica com Ferreirinha, camisa 10 do Grêmio, que postou um print de uma aposta na partida do próprio clube para a decisão do Campeonato Gaúcho. Vale ressaltar que a postagem do atleta gerou discussão sobre os limites das ações de sites de apostas com jogadores em atividade. Ainda, vale destacar que, lesionado, o jogador não participou do jogo.

A suposta aposta feita pelo atleta aconteceu no site Esportes da Sorte, que é parceria de Ferreirinha, e patrocinadora da equipe do Grêmio. Após o estardalhaço, a empresa de apostas esportivas informou, por meio de sua assessoria, que o print postado se tratava de publicidade. Ainda, o Esportes da Sorte informou que outros parceiros da marca postaram a mesmo imagem, incentivando os usuários a apostarem na decisão do Gaúcho.

Vasco

No início de maio, a diretoria do Vasco promoveu uma palestra com todo o seu grupo de jogadores para alertar sobre a manipulação de partidas. Na conversa, conduzida pelo diretor Paulo Bracks, os jogadores receberam uma cartilha produzida pelo departamento jurídico do clube de São Januário, que, segundo a diretoria, tem por objetivo esclarecer pontos importantes sobre o assunto.

Até o momento, nenhum jogador do Vasco foi citado nas investigações da Operação Penalidade Máxima, conduzida pelo Ministério Público de Goiás. Dentro dos atuais elencos das equipes do futebol carioca, por enquanto, o zagueiro Vitor Mendes, do Fluminense, é o único suspeito de participar do esquema de manipulação de apostas esportivas, quando ainda atuava pelo Juventude. O tricolor afastou o atleta preventivamente, que treina separado dos demais companheiros e aguarda decisão do clube sobre o seu futuro.

Corinthians

No dia 15 de maio, o Corinthians realizou uma reunião com todos os atletas do clube, entre profissionais e categorias de base, para conversar sobre os esquemas de manipulação de jogos de futebol.

A reunião contou com as presenças do delegado Cesar Saad, da Delegacia de Repressão e Análise de Delitos de Intolerância Esportiva (DRADE), e do especialista em direito desportivo Luiz Felipe Santoro. O direcionamento da conversa foi de orientar os jogadores, em caso de serem procurados por terceiros para realizar algo em um jogo em troca de uma quantia em dinheiro.

A conversa também visou a orientar os atletas das possíveis consequências que podem sofrer, se forem pegos em esquemas de manipulação. Sendo assim, a palestra abordou os aspectos, criminal, civil e desportivo, as formas que esportistas podem ser penalizados em caso de envolvimento nesse tipo de irregularidade. Até agora, nenhum jogador do Corinthians foi citado na Operação Penalidade Máxima.

Entretanto, vale destacar que um jogador que estava emprestado pelo Corinthians ao Avaí, o atacante Nathan, foi citado por apostadores em trechos de conversas obtidas pelas investigações. Ele teria recebido R$ 15 mil para ser advertido com cartão amarelo na partida contra o Athletico-PR, pela 26ª rodada do Brasileirão, mas não conseguiu cumprir o combinado e teria devolvido o valor.

Ainda, a recomendação dos oficiais ao elenco do Corinthians foi denunciar imediatamente os responsáveis em caso de tentativa de aliciamento para supostos esquemas, para que a situação possa ser investigada pelas autoridades competentes.

Flamengo

Enquanto isso, o Flameng promoveu uma conversa entre o senador Carlos Portinho (PL-RJ), relator da lei que regulamentou as SAFs (Sociedades Anônimas no Futebol), no Brasil, e os jogadores do elenco profissional. O tema foi a Medida Provisória de regulamentação das apostas esportivas e os casos que estão sendo apurados de manipulação de jogos.

Portinho, com vasta experiência no direito esportivo, conversou durante 20 minutos com os jogadores sobre tudo o que tem ocorrido em relação à Operação Penalidade Máxima. Além disso, a diretoria flamenguista quis gerar uma reflexão do próprio grupo sobre o tema, que ganhou grandes proporções nas últimas semanas. Vale destacar que Portinho foi vice-presidente jurídico do Flamengo em 2002 e também foi atleta do clube.

O clube carioca não tem ninguém denunciado ou citado na investigação do MP-GO, mas conversas mostram um membro da máfia das apostas afirmando contar com um atleta rubro-negro para fraude no Campeonato Carioca de 2023. O suposto contato teria sido para a partida de 24 de janeiro, data em que o Flamengo empatou com o Bangu, por 1 a 1, no quinto jogo da temporada, com um time recheado de reservas, já que o grupo principal se preparava para o Mundial de Clubes, em fevereiro.

Em toda a conversa, o aliciador não especifica com qual jogador ele teria acordo no time rubro-negro, nem o que foi acertado: se cartão amarelo, pênalti, escanteio ou finalizações. Também não aparecem nas conversas que o Ministério Público teve acesso nenhuma aposta feita pela quadrilha com o nome de algum jogador do Flamengo, nesta ou em qualquer outra partida.

Após a divulgação da mensagem com o nome da equipe, o departamento jurídico do clube disse, em nota, que "o assunto está com o Ministério Público de Goiás. O Flamengo não teve conhecimento de qualquer citação, mas confia plenamente em seus atletas. O clube está acompanhando a questão e tem todo interesse em que haja uma rigorosa apuração pelos órgãos competentes. Vale lembrar que é comum, como instrumento de convencimento, usar nome de terceiros."

Federação Paulista

A Federação Paulista de Futebol realizou um simpósio aberto ao público e a entidades interessadas, em 17 de maio, que reuniu mais de 300 pessoas, para discutir a manipulação de resultados no futebol e a responsabilização dos infratores. O evento contou com cinco painéis distribuídos ao longo do dia, discutindo a integridade das competições, relatórios de integridade, responsabilidade esportiva e criminal de infratores, e reflexos trabalhistas da manipulação de resultados.

O Simpósio de Manipulação de Resultados e a Responsabilidade dos Infratores recebeu, além dos staffs diretivo e técnico da FPF, membros do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, do Tribunal de Justiça Desportiva de São Paulo, da CBF e integrantes da Polícia Civil do estado.

De acordo com Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da FPF, a Federação Paulista é pioneira no combate à manipulação de apostas. Segundo o dirigente, a entidade se mobiliza sobre o tema desde 2015, e vem colaborando com as autoridades e secretários de Justiça na fiscalização e investigação dos casos.

Federação Paraibana e MP-PB

A Federação Paraibana de Futebol e o Ministério Público da Paraíba criaram uma força-tarefa para combater casos de manipulação no esporte no estado. Para a presidente da FPF-PB, Michelle Ramalho, é importante investigar e combater qualquer indício de irregularidade.

Com a iniciativa entre as partes, ficou decidido um termo de cooperação técnica entre o MP e a FPF-PB. A Federação fornecerá ao Núcleo do Desporto e Defesa do Torcedor, informações atualizadas dos dados cadastrais de todos os jogadores profissionais credenciados e dos árbitros que possuam vínculo com a FPF-PB.

O combate à manipulação de resultados no estado pretende promover medidas enérgicas. Em uma ação que reunirá clubes, Federação e Órgãos de Controle, também há a previsão de que seja criado um Disk Denúncia. Caberá à Federação e aos dirigentes dos clubes enviarem indícios de irregularidades ou de eventos específicos que, no decorrer das partidas, possam influenciar apostas.

A FPF-PB se comprometeu a adotar regras específicas no regulamento para punir clubes, jogadores ou dirigentes que estejam envolvidos com o esquema de manipulação de resultados. Além disso, nos contratos de trabalho de futebol, constam informações explícitas de condutas ilícitas e respectivas penalidades.

Ainda, deverá acontecer a promoção de campanhas educativas, com palestras, seminários e simpósios, para expor o quanto estas atitudes violam a integridade das competições e a boa-fé dos apostadores, mas também configuram uma irregularidade. Vale destacar que jogos dos estaduais contam com a transmissão da Sportradar há três anos, o que mostra a preocupação da FPF com a lisura das partidas no estado.

Pelo menos um jogo do Campeonato Paraibano deste ano foi citado na Operação Penalidade Máxima: a semifinal entre Treze e São Paulo Crystal, realizada no dia 25 de março, em Campina Grande. Uma troca de mensagens entre o ex-jogador Rodrigo Paraíba, filho de Marcelinho Paraíba, e o líder do esquema de fraudes, Bruno Lopes, o BL, apontam uma suposta facilitação para a vitória de um dos clubes. Paraíba não atuava por nenhum dos clubes, mas seria uma ponte entre os jogadores e o aliciador. 

O São Paulo Crystal divulgou uma nota oficial após o segundo jogo da semifinal do Campeonato Paraibano de 2023, destacando que o clube suspeitava de ter sofrido manipulação de resultado.

Federação Alagoana

Na semana passada, a Federação Alagoana reforçou a campanha contra a manipulação de resultados e lançou uma cartilha contra a prática. Vale destacar que sete jogos da Copa Alagoas estão sob suspeita, e a Polícia Civil instaurou inquérito para investigar os casos.

Na esfera esportiva, a denúncia de suposta manipulação está sendo julgada pelo Tribunal de Justiça Desportiva de Alagoas (TJD/AL). Dois clubes, Desportivo Aliança e Miguelense, foram absolvidos da acusação, mas a procuradoria do TJD já recorreu da decisão.

Para tentar extirpar casos como esses, a FAF disponibilizou nos vestiários do Estádio Rei Pelé uma cartilha que aborda o tema da manipulação de resultados. Além disso, a federação disponibilizou uma cartilha de combate ao racismo.

(Foto: Ramdlon/Pixabay)

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