Especialistas apontam que regulamentação pode evitar casos de manipulação no esporte
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Na terça-feira passada (18), o Ministério Público de Goiás deflagrou a Operação Penalidade Máxima II, que investiga a atuação de uma organização criminosa na manipulação de resultados de jogos de futebol, incluindo partidas da Série A do Campeonato Brasileiro de 2022.
Até o momento, nove jogadores são investigados por suposta participação no esquema. Sete deles já tiveram a identidade revelada. São eles: o zagueiro Eduardo Bauermann, do Santos; o meia Gabriel Tota, ex-Juventude e agora no Ypiranga; o lateral esquerdo Igor Cariús, do Sport; o zagueiro Kevin Lomónaco, do Red Bull Bragantino; o lateral esquerdo Moraes, do Atlético Goainiense; o zagueiro Paulo Miranda, ex-Juventude e atualmente no Náutico; e o zagueiro Victor Ramos, da Chapecoense.
Regulamentação como prevenção para manipulação
O escândalo das tentativas de manipulações de jogos na Série A do Brasileirão também jogaram luz a outro assunto muito debatido nas últimas semanas: a regulamentação das casas de apostas. Segundo especialistas, a regulação do setor pode ser uma forma de enfrentar e prevenir casos similares: De acordo com Marcel Belfiore, especialista em direito desportivo e sócio da Ambiel Advogados, ouvido pelo portal R7:
"Desde que as apostas esportivas foram legalizadas no Brasil, no fim de 2018, nós não tivemos uma regulamentação da Lei. Quando você não tem regulamentação da Lei, você vira um território fértil para esse tipo de coisa, porque não há fiscalização adequada. Os sites de apostas operam quase sem nenhuma regra.".
Ele ressalta que os sites de aposta não são os responsáveis pela manipulação de resultados, mas que as plataformas são usadas para esse fim, pois, em um ambiente em que há diversos sites que oferecem o serviço, fica mais fácil "pulverizar essas fraudes":
"Com a regulamentação, você primeiro vai ter arrecadação pelo estado, então haverá mais dinheiro para o governo aparelhar os órgãos e fiscalizar melhor. E também, aqueles sites que estão licenciados, eles cumprem regras, eles pagaram por licenciamento, então eles também têm meios de averiguar aposta suspeitas, então é tudo uma cadeia que eu acho que vai melhorar essa situação.", - completa o advogado.
Essa é a mesma análise feita pelo especialista em direito desportivo e sócio do Barcellos Tucunduva Advogados, Marcelo Mattoso:
"Esses órgãos vão poder auditar aqueles dados e ver possíveis anomalias, número elevados de apostas incomuns por valores incomuns. Quando você tem acesso aos dados, você começa a criar mecanismos de rastrear quem são as pessoas que fazem apostas incomuns, fica mais fácil de identificar essas anomalias."
Segundo Mattoso, como as empresas que operam os sites de apostas não estão no Brasil, perde-se "um mecanismo que seria essencial, ou pelo menos complementar, para você conseguir mapear esse tipo de problema".
Trabalho de conscientização dos atletas é necessário
Outra frente para enfrentar os casos de manipulação de resultados no futebol é a prevenção. Mattoso pontua que é necessário transmitir aos próprios jogadores que a manipulação de resultados prejudica, essencialmente, o esporte, o futebol:
"O que é legal no futebol, nos esportes, é a emoção de você não saber qual vai ser o resultado, tudo pode acontecer. A partir do momento em que você gera uma fragilidade naquela integridade, você nunca vai saber se o cara fez uma falta porque ele errou ou porque tá sendo pago para isso. Você gera uma impressão de que aquilo ali é um teatro"-, finaliza Mattoso.
"Eu acho que para mudar um pouco esse cenário, primeiro, você tem que ter um trabalho de educação continuada, de todos os envolvidos, jogadores, árbitros, técnicos, com relação ao que de fato é o que eles estão fazendo, e as consequências que isso pode levar. Um processo para que entendam, com a penalização desses que estão envolvidos agora, que não existe impunidade nesse mercado e que a consequência é catastrófica para um atleta. Ele pode ser preso, ele pode ser banido ou suspenso por muito tempo"-, finaliza Belfiore.