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Especialistas comentam sobre perigos do alto índice de jovens em apostas e jogos

Especialistas comentam sobre perigos do alto índice de jovens em apostas e jogos

Josias Pereira Josias Pereira
Especialistas comentam sobre perigos do alto índice de jovens em apostas e jogos
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A pesquisa do Datafolha que revelou que 30% dos brasileiros entre 16 a 24 anos afirmaram já ter realizado apostas esportivas online, o dobro da média em outras faixas etárias no país, acendeu o alerta em pesquisadores, médicos, educadores e integrantes de grupos de apoio a viciados em jogos.

Facilidade de cadastro para menores de idade

A reportagem da Folha entrevistou um jovem de 17 anos que não teve qualquer dificuldade para se cadastrar e jogar em plataformas de apostas online. Segundo o morador da zona rural do Distrito Federal, ele chegou ao site a partir de um anúncio em uma rede social, se cadastrou, a operadora gerou uma chave Pix e ele fez as transferências: R$ 20, que ele perdeu, e mais R$ 20, também perdidos pelo jovem.

"Vi um link no Instagram e fui redirecionado para o site. Lá eu tive que criar uma conta, coloquei email, senha e falei que tinha 18 anos. Só marquei numa caixinha. Eu joguei por curiosidade. Vi a propaganda, o pessoal comentando, e falei: 'Por que não tentar?'", disse. "Como não tinha ganhado dinheiro, resolvi não ficar gastando mais", informou o estudante, à Folha.

De acordo com o professor Mateus Castello Branco, que leciona há cinco anos no Elefante Branco, maior escola pública de ensino médio de Brasília, houve uma "febre" de jogos de azar entre os alunos menores de idade.

"Há grupos, principalmente de meninos, envolvidos quase que de forma compulsiva com os aplicativos de apostas esportivas ou jogos que prometem ganhos rápidos. Acreditam que realmente ficarão ricos, resistindo às vezes a largar o celular para prestar atenção à aula", comentou Mateus.

Jovens são mais suscetíveis ao vício

Enquanto isso, o médico Daniel Spritzer, coordenador do Grupo de Estudos sobre Adições Tecnológicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), destacou que o vício em jogos entre adolescentes fica entre 2% a 4%, o dobro do que se vê entre os mais velhos.

"Jovens são mais vulneráveis porque, nessa fase do desenvolvimento, há maior dificuldade de se pensar nas consequências de longo prazo quando um dos aspectos envolvidos é mais prazeroso. E quanto maior o acesso, cresce o uso e aumenta o uso problemático", destacou Sprotzer.

Já o Programa Ambulatorial do Jogo Patológico do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP) vêm recebendo um público cada vez mais jovem em busca de tratamento. "A gente ainda não tabulou, mas a impressão é que a amostra fica mais masculina, surge agora a predominância da aposta online, sobretudo por meio do celular, com uma paridade em termos de prevalência entre apostas esportivas e os cassinos online", afirmou o médico e professor da USP, Hermano Tavares.

Integrantes do grupo de apoio "Jogadores Anônimos de São Paulo" também relataram à Folha uma maior procura de jovens, que chegam a ir com os pais, mas, por serem menores de idade, não são aceitos. Segundo um dos participantes do grupo, que afirmou ter começado a jogar aos 14 anos e já ter perdido R$ 1 milhão em 11 anos, há uma demora para as pessoas entenderem que sofrem de uma compulsão.

Outro apostador do grupo, que também começou a jogar na adolescência, baralho e caça-níquel, aos 15 anos, afirma ter perdido R$ 700 mil. Ele afirmou que, recentemente, fez muitas apostas online e disse se assustar com a onipresença da publicidade das bets.

Regulamentação pode auxiliar no combate à ludopatia

Segundo as secretarias de Educação de todos os estados, questionadas pela Folha, não há relatos de problemas graves com apostas entre alunos, assim como não há ações específicas relacionadas ao tema. Vale destacar que a nova legislação que regulamenta os jogos e apostas online no Brasil, estipulou medidas de jogo responsável, preocupação com a publicidade para menores de idade, e destina parte da arrecadação para o SUS (Sistema Único de Saúde) para medidas relacionadas a danos causados pelos jogos.

"A questão do vício em jogo é prioridade para o governo. Estamos desde o segundo semestre do ano passado trabalhando com o Ministério da Saúde. Vamos estabelecer um grupo de trabalho com a Saúde para não só criar sistemas em conjunto, mas, também, editar uma portaria que vai ser mais específica no cuidado com as pessoas que tiverem transtorno com aposta", informou José Francisco Cimino Manssur, assessor especial do Ministério da Fazenda.

Segundo Hermano Tavares, para coibir a prática por jovens, serão necessárias campanhas de conscientização e regulações específicas, como a proibição de propaganda que reforça a ilusão de controle sobre resultados aleatórios. Apesar das preocupações, representantes do mercado de jogos acreditam que a regulamentação do setor vai ajudar no combate à ludopatia.

"As operadoras terão regras a cumprir, o que deve coibir as dinâmicas comerciais atuais, onde, infelizmente, são recorrentes os casos sem qualquer controle. Com a regulação, a publicidade seguirá regras do Conar [Conselho Nacional Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária] e o próprio setor deve ajudar as autoridades a fiscalizar os malfeitos", finalizou Andre Gelfi, presidente do Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR).

(Foto: Andrea Piacquadio/Pexels)

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