Gerente analisa "pandemia" das bets na ótica dos Recursos Humanos e aconselha empresas
A ex-patrocinadora de São Paulo e Flamengo é conhecida pelas odds turbinadas. Seu layout incrível e fácil de usar agrada apostadores novos e experientes.
Juliana Godinho, gerente Forensic & Integrity | ESG e Compliance da Protiviti, publicou um artigo sobre a explosão do mercado de bets no Brasil sob a ótica dos Recursos Humanos.
Em seu texto, a autora recomenda às empresas que se antecipem ao problema do vício em apostas esportivas e jogos, prevenindo assim os impactos negativos que o vício pode trazer por meio da conscientização de seus profissionais.
Nessa nova etapa do cuidado com a saúde mental de colaboradores, estarão blindadas as empresas que tiverem em suas agendas programas de conscientização do vício e seus riscos, educação financeira, além de programas de apoio psicológico e acolhimento para profissionais que possam já estar envoltos ao vício.
Abaixo, a íntegra do artigo de Juliana Godinho:
“Pandemia” das Bets: desafios e responsabilidades corporativas com as apostas on-line
Que as Bets entraram nas nossas vidas e estão ganhando cada vez mais espaço, não é novidade. E lidar com as consequências que elas vêm causando se tornou um novo desafio, pois jogar de forma compulsiva tem se tornado um vício que acarreta graves impactos nas rotinas pessoais e profissionais.
Um dos pontos a se discutir é que o jogo implica num aporte financeiro o qual o apostador, em algumas circunstâncias, pode não ter, levando a endividamentos ou ainda impulsionar a realização de fraudes.
O vício também pode levar a estados emocionais doentes, como a ansiedade e o estresse, sem contar no possível afastamento do convívio social com familiares, amigos e demais profissionais, impactando em seu desenvolvimento. Por fim, mas não menos importante, o vício tira a concentração e foco do indivíduo e, caso ele tenha a possibilidade de trabalhar próximo ao celular, a qualquer momento irá interromper suas responsabilidades laborais para apostar.
Esse cenário alarmante de “pandemia” das Bets é comprovado pelo estudo feito pelo Banco Central e tem chamado a atenção das empresas. Nos primeiros oito meses de 2024 foram gastos entre 15 a 20,8 bilhões de reais por mês em apostas. O levantamento mostra que, em média, 11% da população brasileira esteve envolvida nas transferências que foram utilizadas como base deste mapeamento, ou seja, fizeram pelo menos uma aposta nesse período.
O estudo vai além e indica que o maior número de apostadores está entre 20 e 30 anos, porém esse grupo tende a ser mais “disciplinado” nos valores apostados. Mas, conforme a idade aumenta, os valores crescem substancialmente superando a média per capta de R$ 2,5 mil por mês no grupo 50+.
Outro dado de impacto trazido pela pesquisa está relacionado ao grupo de baixa renda, indicando que aproximadamente R$ 3 bilhões dos recursos obtidos pelo Bolsa Família foram revertidos em apostas esportivas on-line.
Diante destes números, a discussão deve ser ampliada, sobretudo porque as apostas virtuais têm enorme apelo ao vício dada sua facilidade, estímulo e influência, sem distinção de classe, idade, gênero ou nível de instrução.
Estudos mostram que a dopamina, neurotransmissor que atua em nosso cérebro como um dos hormônios que causa sensação de prazer e satisfação, atinge seu ápice não no momento em que conquistamos uma meta ou objetivo, mas quando há a expectativa de que isso vá acontecer.
Traduzindo para o mundo das apostas eletrônicas, esse auge da dopamina não está em ganhar, mas na possibilidade de que isso aconteça. Logo, o “gostoso” do jogo fica nessa “expectativa de ganho”, e não no ganho em si. Esse ponto, por si só, já é um bom norteador do porquê as pessoas continuam apostando mesmo tendo perdido na maioria das vezes. A promessa de ganho fácil de dinheiro pode ser uma das portas de entrada, mas não é o que mantém o comportamento.
Além disso, uma das principais barreiras que deveria existir, que é o medo de perder dinheiro, acaba se tornando um facilitador deste vício. Isso porque há uma imensa facilidade em movimentar contas via Pix ou até mesmo em conseguir um empréstimo que “cai na hora” com poucos cliques. O “dinheiro virtual”, que é um mero número na tela do celular, permite ao apostador se entregar ao vício rapidamente e “sem culpa”. E, o que é ainda mais perigoso, em tempo real, em qualquer momento ou ambiente.
E, por fim, ainda temos o modelo “Caça Níquel” das Bets, que ilude usuários ao dar-lhes a percepção de ganho fácil logo nas “primeiras rodas”, ou por veicular em redes sociais influenciadores vencendo o jogo, mas que não é a realidade.
Pois bem, os jogos estão aí e os impactos para a sociedade como um todo estão postos. Cabe às empresas se anteciparem ao problema que já é realidade e prevenir-se dos impactos negativos que o vício pode trazer por meio da conscientização de seus profissionais. Nessa nova etapa do cuidado com a saúde mental de colaboradores, estarão melhor blindadas as empresas que tiverem em suas agendas programas de conscientização do vício e seus riscos, educação financeira, além de programas de apoio psicológico e acolhimento para profissionais que possam já estar envoltos ao vício.
(Foto: Jan Vasek/Pixabay)