Jogadores de 58% das equipes do Gauchão afirmam abordagem para manipular jogos
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Atletas de pelo menos sete dos 12 clubes do Campeonato Gaúcho, ou seja, jogadores de 58,3 % das equipes, receberam ofertas para manipular partidas na competição estadual de 2023. Nenhum deles joga nos grandes do estado, Grêmio e Internacional. Entretanto, o número pode ser bem maior do que os já revelados, uma vez que o tema é delicado e causa receio para declaração pública.
De acordo com a GZH, fora dos microfones, jogadores e pessoas com trânsito nos vestiários, deram detalhes da procura, das negativas, e do reflexo traumático da prática no ambiente de trabalho. Em um clube do Interior, dois jogadores foram procurados para participar de esquemas de manipulação. Eles rejeitaram o convite prontamente, o que inibiu os aliciadores. A partir da recusa, as instruções seguintes não foram repassadas, sobre se deveriam fazer gol, levar cartão, ceder escanteio, ou entre outras possibilidades de apostas nos sites.
Os atletas procuraram a comissão técnica e a direção do clube, informando o contato que haviam recebido. O intuito era, além de deixar clara a posição de manter a lisura, alertar a todos de que esse tipo de situação poderia ocorrer. Os dirigentes convocaram uma reunião com o grupo inteiro e explicaram os riscos e as consequências dessas situações.
Em outra equipe, a situação foi semelhante: um profissional que não faz mais parte do quadro de funcionários do clube, em conversa com outro companheiro, analisou o comportamento de colegas durante o período de trabalho. Ele classificou como "ações estranhas" alguns lances que resultaram em pênaltis e cartões para a equipe.
Os casos da elite do futebol gaúcho diferem dos que são vistos nas divisões inferiores dos campeonatos. Nos torneios menores, como Copa FGF (Copa Federação Gaúcha de Futebol), Terceirona e Estadual de base, a maioria dos atletas envolvidos nas suspeitas de manipulação de resultados eram "funcionários" das empresas que terceirizavam os departamentos de futebol dos clubes. Empresários, normalmente de outros lugares do país, se apresentavam interessados em administrar o time, pagando as taxas de inscrição e mais um valor de bônus pelo "aluguel" da agremiação. As ações suspeitam quase sempre partiam desses empresários. Vale ressaltar que, em casos como esses as equipes costumam vir com técnico e alguns atletas já contratados.
Entretanto, no Campeonato Gaúcho, a prática é outra, e ocorre de forma isolada. Pelos relatos recebidos até o momento, não houve um movimento organizado nos clubes, já que as abordagens dos manipuladores foram diretamente aos atletas, que identificavam alguns alvos potenciais e faziam as propostas.
Segundo Felippe Marchetti, Doutor em Integridade do Esporte pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e autor de livro sobre o tema, existe um padrão para definir os alvos. Os aliciadores escolhem seus alvos por posição em campo, dando preferência por defensores, como goleiros, zagueiros e laterais. Além disso, os criminosos também observam o momento da carreira dos jogadores, elegendo atletas que já estão da metade para o final da atividade, tanto pela proximidade com a aposentadoria, quanto pela influência que exercem sobre os colegas. Ademais, são observadas as situações psicológicas e financeiras do jogador para ser escolhido como alvo.
No caso do Rio Grande do Sul, aliciadores obtiveram acesso, inclusive, a questões bancárias dos atletas. Em um caso específico, os manipuladores descobriram até que um atleta estaria passando por um problema pessoal ligado a apostas, com débito em uma banca.
A situação do Brasil é tentadora para aliciadores, conforme Marchetti. Com cerca de 83% de jogadores recebendo cerca de um salário mínimo, mais da metade vivendo situação de atraso de salários, e menos de um quinto dos clubes com calendário para o ano inteiro, o cenário é perigoso.
“Quando comecei meu Doutorado sobre o tema, há seis anos, via no Brasil um cenário de ‘tempestade perfeita’ para a atuação de quadrilhas, que já agiam internacionalmente havia pelo menos 15 anos.” —, aponta o pesquisador.
Para ele, é urgente regulamentar o mercado, não só para efeitos de tributação, mas, principalmente, pela lisura do esporte. Segundo o Doutor, é necessário explicar aos atletas sobre os perigos e as consequências desse crime, além de criar um canal de contato direto e seguro para jogadores denunciarem os aliciadores.
Na terça-feira (18), quando o Ministério Público de Goiás anunciou novos casos investigados sobre possíveis manipulações em jogos no futebol brasileiro, a Federação Gaúcha de Futebol (FGF) emitiu uma nota, reforçando a existência de uma parceria com a empresa de monitoramento de apostas esportivas Sportradar:
"A Federação Gaúcha de Futebol - FGF informa que tomou conhecimento sobre os desdobramentos da operação Penalidade Máxima, do Ministério Público de Goiás, pelas notícias veiculadas na imprensa. A FGF possui parceria com a empresa de dados Sportsradar, que visa a integridade das ações esportivas, com monitoramento global de movimentações em mercados de apostas. Qualquer denúncia nesse sentido recebida pela FGF é repassada aos órgãos competentes para investigação: Polícia Civil, Ministério Público e TJD. Na semana passada, a diretoria da FGF esteve reunida com membros da Delegacia Regional de Polícia Judiciária da Polícia Federal com o intuito de estabelecer, também com essa autoridade, uma adequada troca de informações visando a integridade das suas competições".
Vale lembrar que, dos 11 jogos investigados pelo MP-GO, sendo seis no Campeonato Brasileiro da Série A de 2022, e cinco nos Estaduais de 2023, quatro deles envolvem clubes gaúchos. São eles: pelo Brasileirão, Goiás x Juventude e Palmeiras x Juventude; e pelo Campeonato Gaúcho, Caxias x São Luiz e Esportivo x Novo Hamburgo.