Rogatto confessa manipulação à CPI das Apostas e diz que já rebaixou 42 clubes no Brasil
O retorno dos trabalhos da CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas ficou marcado por uma confissão feita pelo empresário William Pereira Rogatto, de 34 anos. Ele admitiu, nesta terça-feira (8), em depoimento online, ter participado de um esquema ilegal de apostas esportivas.
Rogatto foi apontado pelo Ministério Público do Distrito Federal como chefe de um esquema que utilizou o Santa Maria para manipular resultados do Candangão desta temporada. O clube do DF foi rebaixado na primeira fase da competição estadual.
Aos deputados, Rogatto declarou ainda que é conhecido como "Rei do Rebaixamento" e teria atuado de forma direta no descenso de 42 clubes do futebol brasileiro nos últimos anos. A manipulação de resultados rendeu ao empresário uma soma de R$ 300 milhões. Atualmente, ele mora em Portugal e prestou depoimento após a CPI aprovar um requerimento de convocação. Aos parlamentares, Rogatto deu detalhes de como funcionava o esquema.
"Basicamente, eu engano o presidente do clube. Vou pagar ele para colocar os meus atletas. Aquele time vai perder, ele vai me beneficiar nas minhas apostas. Alguns presidentes sabiam e aceitavam. Eu rebaixei 42 clubes no Brasil. Eu só posso ganhar dinheiro com eles caindo. Peguei dinheiro demais com os caras. Quando eu comecei, eu comecei sozinho, mas a ganância me dominou. Para isso eu tinha que colocar mais algumas pessoas no sistema, as pessoas viam que era lucrativo e centenas e centenas de empresários investiram em meu negócio. Eu tinha meus jogadores, meus atletas e entrava nos clubes, enganava alguns presidentes e alguns compactuavam comigo. O modus operandi é complexo, mas o básico é isso", declarou Rogatto na CPI.
O empresário já teve seu nome ligado a investigações anteriores, como em 2020, em denúncias de suspeita de manipulação na Série A3 do Campeonato Paulista. Alvo de mandados de prisão preventiva, busca e apreensão, Rogatto é foragido da Justiça Brasileira.
"O esquema não é pequeno, há pessoas que já ganharam muito dinheiro comigo. Tenho muitos anos nisso, trabalhei em todos os estados do Brasil e trabalhei fora, é muito além disso daí que vocês estão buscando. Se eu não fui o maior, fui um dos maiores; se não fui o maior do Brasil, fui o mais organizado do Brasil. Tem outros grupos, não vou ficar falando deles. São pessoas perigosas. Só resolvi falar hoje porque estou pensando que tem que acabar com isso aí. Eu vejo torcedor se matando, hoje a gente vê torcida do Corinthians, o torcedor sofre pelo time e mal sabe do que acontece nos bastidores. Eu pago muito bem por um gol. Não estou protegido para mexer com os caras que estão acima de mim. Se eu mexer, eu vou cair. Eu sou grande até um ponto", disse o "Rei do Rebaixamento".
Esquema antigo e até árbitros envolvidos
Rogatto afirmou no depoimento que o esquema envolvia até árbitros. Ele destacou ainda que a manipulação no futebol brasileiro é algo bastante antigo e atacou, inclusive, a CBF, destacando que existem pessoas envolvidas na "máfia" dentro da entidade e também das Federações Estaduais.
"O sistema é muito além disso, os grandes não vão cair nunca. Estamos falando de dentro da CBF, de dentro das federações, tenho provas e vídeos. Isso não vai dar em nada, vai fazer vítimas do sistema e, no final, não vai acabar porque não é de agora. Isso existe há mais de 40 anos, eu fiz parte do sistema. Se eu tiver que pagar, vou voltar para o Brasil e pagar. Eu sou só apenas uma ferramenta, o mundo do futebol é muito mais do que a gente pensa. Não vai dar em nada, a gente vai passar por isso, nunca vai acabar, a maior máfia está dentro da federação", reforçou.
"Tinha árbitros também, dos dois. Um árbitro hoje oficial ganha em torno de R$ 7 mil por jogo, eu pagava R$ 50 mil para ele, o árbitro ganha pouco, o gatilho do futebol está na máfia, que é a confederação, é a CBF, que tem recursos e não passa. É tão simples, é uma matemática tão perfeita, não vê quem não quer. Está tão feio que, como não acontece nada, o sistema não faz nada, você vem e oferece um dinheiro fácil. Isso é um gatilho da corrupção que temos no Brasil. Eu sou uma máquina que estou oferecendo para o atleta dinheiro fácil e dando dignidade para ele oferecer comida ao filho dele", contou o empresário.
Textor tem razão
Rogatto citou John Textor em seu depoimento. O empresário norte-americano denunciou à CPI das Apostas Esportivas um esquema de manipulação em jogos do futebol brasileiro. Apesar de seus dados serem baseados em levantamentos inconclusivos, para Rogatto, Textor tem um fundo de razão, mesmo sendo chamado de loucos por alguns.
"Vocês falaram do John Textor, não é? Não sei as provas que John Textor tem, tá? Mas uma coisa eu posso falar: as pessoas que trabalharam para mim também trabalharam contra ele nesse campeonato, e as pessoas falam que não. Não estou aqui para enfrentar… Leila [Pereira, presidente do Palmeiras], não quero te enfrentar jamais, não estou falando que você fez ou não, está bom? Mas eu te garanto que o John Textor não está totalmente errado. Mas, enfim, é só pra você entender a dimensão em que está o futebol, cara. Entende? O que o chamam de louco, ele não é tão louco assim", concluiu Rogatto.
(Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)