Carreras teria pedido R$ 35 milhões ao presidente da ANJL para "proteger operadoras" na CPI
O relator da CPIFUTE, o deputado federal Felipe Carreras (PSB/PE), teria pedido uma propina de R$ 35 milhões para o presidente da Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL), Wesley Cardia, para "defender seus interesses na regulamentação do setor e não transformar a vida de seus associados num inferno na CPI". As informações são da revista Veja, em reportagem publicada nesta sexta-feira (22), que afirma que a abordagem teria sido feita em pleno Salão Verde da Câmara dos Deputados.
A reportagem destaca que o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT/SP), foi alertado do episódio pelo assessor especial da pasta, José Francisco Manssur, no final de agosto. Com isso, Haddad teria solicitado "a um seleto grupo de parlamentares que redobrasse a atenção com os trabalhos da CPI, a fim de evitar pressões indevidas ou achaques às chamadas bets, o que poderia afastá-las do mercado brasileiro". O ministro questionou se a acusação havia sido formalizada e se havia provas contra Carreras, e, após receber duas negativas, teria convocado a equipe de controle interno da Fazenda para produzir um documento oficial sobre a denúncia, para envio à Polícia Federal e ao Ministério Público.
O relator da CPIFUTE nega as acusações e afirma que "a própria Revista Veja afirma que 'nenhuma evidência material foi apresentada contra o deputado'. Ou seja, a matéria veicula boatos, relatados a um terceiro sem prova ou qualquer base fática". Ainda, vale lembrar que Carreras era o mais cotado para ser o relator do Projeto de Lei que regulamenta a taxação das apostas esportivas no país. No entanto, ele foi preterido pelo deputado federal Adolfo Viana (PSDB-BA), justamente no final de agosto,
Manssur, um dos cotados para assumir a Secretaria Nacional de Jogos e Apostas, teria sido procurado por Cardia, em caráter de urgência, onde informou o pedido de R$ 35 milhões e que um assessor de Carreras já o havia abordado anteriormente, assim como outros integrantes da CPI pressionavam o setor em busca de vantagens financeiras. A Veja destaca ainda que, "na ocasião, informado sobre as investidas, ele (Manssur) advertiu que o governo não compactuava com a cobrança de propina, recomendou que nada fosse pago em qualquer hipótese".
“Em diálogo com a assessoria do Ministério da Fazenda, ouvimos uma recomendação que condiz com a nossa forma de atuar e de enxergar a evolução nas relações institucionais: não ceder a qualquer pedido não republicano que eventualmente viesse do governo ou do Congresso. Seguimos firmes com esse propósito”, destacou a Associação Nacional de Jogos e Loterias.
Conforme publicamos aqui no Aposta 10, na quinta-feira (21), o relatório final da CPIFUTE teve a sua votação adiada após desentendimentos entre deputados. Carreras não solicitou indiciamentos, mas propôs quatro Projetos de Lei, um deles permitindo apostas somente em resultados de jogos e número de gols. Ainda, falamos também sobre as centenas de requerimentos, convites e convocações que foram apresentados por parlamentares na CPI, sem a oitiva de personagens importantes para as investigações, como jogadores denunciados, membros da quadrilha, dirigentes de federações e de casas de apostas. Carreras falou sobre isso, à Veja:
“Pela regra, cabe ao presidente da comissão pautá-los. Para você quebrar o sigilo de uma empresa, é preciso ter indício de alguma coisa. Não dava para partir para uma investigação sem qualquer indício de alguma coisa. Não dava para partir para uma investigação sem qualquer indício sobre casas de apostas”, comenta o relator, reiterando não haver relação entre as denúncias de manipulação e as operadoras.
Confira a nota da Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL):
"Esta questão nunca foi tratada no âmbito do Ministério da Fazenda. A ANJL reforça que é a favor da discussão clara, objetiva e republicana sobre toda e qualquer matéria em tramitação no Congresso ou em discussão no governo que trate da regulamentação das apostas esportivas."
Confira a nota do deputado Felipe Carreras (PSB/PE):
"Com relação à reportagem publicada em Veja, na edição de 22.09.2023, que lhe imputou graves acusações, o deputado federal Felipe Carreras (PSB-PE), relator da CPI das Apostas Esportivas, vem a público informar que:
A própria Revista Veja afirma que 'nenhuma evidência material foi apresentada contra o deputado'.
Ou seja, a matéria veicula boatos, relatados a um terceiro sem prova ou qualquer base fática, como a reportagem afirma.
Além disso, a realização do suposto encontro no qual o presidente da Associação Nacional de Jogos e Loterias teria denunciado o pedido de propina foi negado, pelo próprio Cardia, em nota à Veja.
De toda forma, o deputado segue à disposição das autoridades para todo e qualquer esclarecimento que se faça necessário."
(Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)