Caso Blaze: influenciador descobre nome de brasileiro possível dono da operadora
A Blaze, casa de apostas especializada em cassino, esteve em evidência nos últimos dias nas redes sociais, após um vídeo do influenciador Daniel Penin ter viralizado na Internet brasileira. Após posicionamento de um dos embaixadores da empresa, o produtor de conteúdo Felipe Neto, e da própria casa de apostas, Penin divulgou um segundo vídeo, intitulado “BLAZE - A Face do Dono (Parte 2)”.
O conteúdo, que está disponível desde a última quarta-feira (7), no canal do Youtube do influenciador, conta com quase 35 minutos, em que o influenciador tenta responder algumas perguntas que ficaram sem resposta no primeiro vídeo.
“Após a postagem e viralização da parte 1 do vídeo da Blaze, onde mostro toda minha investigação para tentar descobrir quem é o verdadeiro dono por trás do cassino blaze, recebi diversas ameaças. Assim como outros influenciadores que postaram conteúdos sobre o mesmo assunto criticando a Blaze, também foram vítimas de ameaças por parte de outros influenciadores mandados da Blaze, e por pessoas diretamente conectadas com o cassino. Depois das ameaças, pensei seriamente em não postar este vídeo, em apagar tudo, prezar pela minha segurança e esquecer toda essa história da Blaze. Mas decidi ir adiante, e mostrar tudo o que eu descobri... Foram diversas pesquisas para realmente achar quem é o verdadeiro nome por trás de tudo isso. A pessoa que driblou o sistema jurídico brasileiro. A pessoa que criou um aplicativo que literalmente tira o dinheiro dos pobres e dá aos influencers. A pessoa por trás da BLAZE. Você fez de TUDO para se esconder... ou melhor, nem tudo. Por que hoje, você vai aparecer.” - texto que consta na descrição do vídeo, que pode ser acessado aqui.
Dificuldade para encontrar registros
A Blaze vem fazendo muito sucesso entre os apostadores brasileiros, após desenvolver ações de marketing e parcerias com diversos influenciadores digitais de grande relevância no país. Entretanto, alguns questionamentos sobre a marca surgiram nas última semanas. Nesse segundo vídeo, Penin começa mostrando as reações de criadores de conteúdo sobre o video anterior, e fala que recebeu ameaças após a primeira publicação. Ainda, Daniel diz que vários criadores de conteúdo falaram que já sabiam sobre o assunto, que era óbvio, mas ele continua questionando o porquê de, mesmo sabendo, todos continuarem fazendo propaganda para a marca.
O influenciador explana o caminho feito até o momento para identificar o dono da Blaze, citando as possíveis localizações de registro da empresa, como Curaçao, Malta e Estados Unidos (Califórnia e Delaware). Além disso, Penin cita as empresas e nomes que apareceram na pesquisa sobre a casa de apostas: Prolific Trade N.V., TrustMoore, Emoore, Kayak Interactive, Oberon Media, IWin, Uproar, Flipside, George Bergmann e Boris Polonsky.
De acordo com Penin, mais de 400 influencers brasileiros fazem propaganda para a Blaze, como John Vlogs, Felipe Neto e Neymar. Ainda, de acordo com o Youtuber, diversas pessoas na Internet têm questionado se esses embaixadores possuem participação na empresa de cassino.
Registro nos EUA, lavagem de dinheiro e falta de responsabilização
Em sua saga para achar um nome, o influenciador consultou bancos de dados públicos, mas foram alguns documentos fornecidos pelos Estados Unidos, que o fizeram se aproximar de um endereço em Delaware. Para isso, o influenciador chegou à Open Corporates, mais uma empresa sediando outra empresa, que contém registros de ser comandada por uma Sociedade Anônima.
De acordo com Penin, comentários veiculados na Internet atentam para o endereço de registro da empresa, 1209 North Orange, que seria um lugar para lavagem de dinheiro. Ainda, ele divulga uma postagem de avaliação de um usuário sobre o local, datada de quatro meses atrás, onde Jeremy Nathan afirma que o ponto é usado por milhares de empresas para fugirem de impostos:
“Um prédio que ficou famoso por ajudar dezenas de milhares de empresas a evitar centenas de milhões de dólares em impostos, por meio da chamada ‘brecha de Delaware’. Este prédio de escritórios atarracados de tijolos amarelos ao norte do dentro degradado de Wilmington, é o endereço registrado de mais de 285.000 empresas (incluindo a Blaze, de acordo com Daniel). Isso é mais do que qualquer outro endereço conhecido no mundo e 15 vezes mais do que os 18.000 registrados em Ugland House.”, diz o comentário, que se refere também à Ugland House, um prédio de cinco andares nas Ilhas Cayman, sobre o qual Barack Obama teria dito ser “o maior edifício do mundo ou o maior golpe fiscal em registro”.
“Oficialmente, 1209 North Orange é o lar da Apple, da American Airlines, Coca-Cola, Walmart e dezenas de outras empresas na lista Fortune 500 das maiores empresas americanas. Estar registrado em Delaware permite que as empresas aproveitem as regras rígidas de sigilo corporativo, tribunais favoráveis aos negócios e ‘a brecha de Delaware’, que pode permitir que as empresas transfiram legalmente os ganhos de outros estados para Delaware, onde não são tributados sobre receitas não fiscais geradas fora do estado. Diz-se que a brecha custou a outros estados mais de U$S 9 bilhões em impostos perdidos na última década e levou Delaware a ser descrito como ‘Um dos maiores paraísos do mundo para evasão e evasão fiscal’.”, finaliza Nathan em sua postagem de avaliação.
Com sua pesquisa a partir de reportagens encontradas pelo Google, e por comentários de usuários em redes sociais, Daniel Penin chegou à conclusão de que a Blaze optou pelo registro em Delaware pela carga tributária baixa e pela série de incentivos fiscais oferecidos. Além disso, um ponto apontado pelo influenciador é que em caso de falência ou de problemas legais, os proprietários da empresa não seriam responsáveis pelas dívidas e obrigações da organização.
“Já entendi porque vocês estão em Delaware: é porque se um dia vocês quebrarem, ninguém vai conseguir achar nem o dono, nem a empresa, e nem recuperar o dinheiro. Se alguém processar vocês lá em Curaçao, vocês têm 10 dólares para pagar. Se alguém decidir processar vocês lá em Delaware, Delaware não vai revelar nunca quem que é o dono da empresa, quanto que vocês vão ter para pagar, e não vai fazer vocês pagarem nunca, né?”, diz Penin, durante o vídeo.
Proibida de operar nos EUA e em Portugal
Ainda sem encontrar o dono, o influenciador tenta um último recurso, fazendo pesquisas em uma plataforma que mostra em nome de quem os sites foram registrados. Com isso, Penin mostra que o site mundial da Blaze foi inscrito pela TUCOWS, INC, com a opção de Privacidade de Dados, em Toronto, no Canadá.
Enquanto isso, com informações de usuários nas redes sociais após a repercussão do primeiro video, Penin mostrou postagens de pessoas que afirmam que a Blaze é proibida nos Estados Unidos e em Portugal.
Apesar de a empresa estar sediada legalmente no país, utilizando a brecha de Delaware, de acordo com Simão Pedro, no Twitter: “Curiosidade: A Blaze é proibida nos EUA.”
“Estados Unidos, o país onde os cassinos são liberados, e a Blaze é proibida. Brasil, o país onde os cassinos são proibidos, mas a Blaze é liberada.”, provoca Penin.
Enquanto isso, em uma mensagem privada enviada por Alexandra Pinto, Penin foi informado que a casa de apostas também foi proibida de operar em Portugal:
“Antes da Blaze ir para o Brasil, ela esteve a tentar entrar em Portugal. Se pesquisares Blaze wuant (grande youtuber português) noticia cassino ilegal em Portugal, vai aparecer. E depois dessa polêmica, a Blaze foi banida de Portugal.”
Influenciadores recebendo porcentagem da perda de usuários
Ainda, de acordo com Penin, a Blaze e algumas outras empresas de jogos foram proibidas de operar nos Estados Unidos, porque se descobriu que influenciadores que faziam propaganda para a operadora, recebiam porcentagens de valores das perdas dos usuários. À época, o Senado do país cogitou proibir todos os jogos e apostas, mas voltou atrás na possível decisão.
Enfim, um nome e um rosto
Em pesquisa sobre o dono do site do domínio br da Blaze, Daniel encontrou o primeiro e único nome brasileiro veiculado à Blaze. Entretanto, após tamanho estardalhaço, o influenciador disse que não revelaria a identidade do provável dono da Blaze, não mostrando o nome nem o rosto da pessoa encontrada, porque afirmou não ter “prova suficiente”. Além disso, o Youtuber disse que “esses caras são bilionários”, que “ele vai apagar as redes sociais e sumir”, e que a exposição não ajudaria em nada. Ainda, Penin relembrou que recebeu ameaças pelo primeiro vídeo, motivo que o faria não expor a pessoa encontrada.
Contudo, Daniel Penin expôs vários famosos e influenciadores brasileiros que são parceiros da empresa, já que ele mostrou fotos e comentários de criadores de conteúdo na página do suposto dono da Blaze, como Thiago Reis, Dynho Alves e John Vlogs.
Ainda, mesmo afirmando que não há “nenhuma prova de quem é o dono”, Penin afirma que R$ 50 milhões é um valor baixo para nomes como Neymar e Felipe Neto receberem pela parceria com a operadora de cassino. Sendo assim, sugere que há a possibilidade de os influenciadores embaixadores receberem uma parcela das perdas dos usuários enviados por eles para a plataforma.
Foco nos influenciadores, não mais no dono
Após tamanho engajamento, Daniel incentiva as pessoas a esquecer quem seria o bilionário dono da Blaze, para focar nos influenciadores que fazem propaganda para a marca, destacando Felipe Neto.
Segundo ele, “o verdadeiro dono da Blaze é quem fez ela crescer, como Felipe Neto, Neymar Jr., John Vlogs. Gessica Kayane, Santos, Mel Maia, Renato Garcia, João Caetano, Mc Poze, Orochi, Mc Mirella, Mc Dynho etc etc, os mais de 400.”
Ainda, ele cita uma lista de influenciadores, que recusaram parcerias com a Blaze, como Nando Moura, Orochinho, Lucas Inutilismo e Marcelo Brigadeiro. Segundo Penin, Super Xandão teria recusado R$ 1,5 milhão pelo contrato com a operadora.
Cazé e outros influenciadores se pronunciam
Citado por Daniel como possível defensor dos influenciadores que fazem propaganda para a Blaze, Casimiro Miguel se pronunciou no “Casimiro reage”, em seu canal no Youtube, e afirmou que também recusou proposta da operadora.
Cazé ponderou a relação dos influenciadores com as empresas parceiras, falando que algumas pessoas divulgam as marcas, mas não sabem muito sobre elas. Ainda, ele citou um exemplo de um jogador que postou um texto entre aspas, provavelmente enviado pela assessoria, que envia textos-base para os influenciadores.
Casimiro disse também já ter feito parceria com uma empresa do setor no passado, e que, à época não pensou em tirar dinheiro dos outros, mas na oportunidade em ganhar o seu. Ainda, ele falou que a proposta foi um valor maior do que todo o dinheiro somado que ele já havia ganhado na vida. Contudo, o Youtuber disse que não faz mais esse tipo de parceria.
Vale destacar que Penin questionou Casimiro sobre sua fala de que os criadores de conteúdo digital usavam a parceria com a Blaze para pagar as contas. De acordo com Daniel, “esse dinheiro está sendo retirado dos pobres”.
Sendo assim, Cazé contou que, inicialmente, só olhou para o próprio bolso, já que ainda ganhava uma porcentagem de usuários que entravam com seu cupom na plataforma. Entretanto, Casimiro destaca que a decisão desse tipo de acordo é pessoal, já que o que é justo e moral, “cabe a cada um decidir”. Ainda, Cazé destacou que os cassinos e os jogos de azar só conseguem manter o funcionamento devido à perda dos usuários nas plataformas. Sendo assim, todo dinheiro pago por um cassino vem da perda dos clientes no site.
Além de Casimiro, outros influenciadores citados no vídeo comentaram sobre o assunto, em reações em seus próprios canais do Youtube, como Nando Moura, e o português Wuant.
Após a repercussão do primeiro vídeo, Felipe Neto comentou em seu perfil no Twitter, defendendo a Blaze e afirmando não receber nenhuma porcentagem de perda dos usuários. Um dos maiores questionamentos de Penin é Neto ter chamado a Blaze de “renda extra”, postagem que foi apagada pelo influenciador posteriormente.
Vale lembrar que a Blaze, em comunicado, informou que “Nenhum dos influenciadores com quem trabalhamos tem um acordo de compartilhamento de receita”. Além disso, a marca disse que segue a legislação brasileira, e garantiu a integridade da plataforma de cassino.